À conversa com um chinês

08-04-2014 20:45

Ontem tive a oportunidade de conversar com um rapaz chinês e descobri um pouco da forma como eles veem o seu próprio país e o resto do mundo. Achei que fosse interessante partilhar convosco :)

A primeira coisa a salientar é o seu inglês, muito bom! Ele é de uma província a norte de Jiangsu (Nanjing) e cruzei-me com ele quando estava no café. Perguntei se me podia sentar ao pé dele, pois não havia mais lugares. No início estava a fazer a minha vida normal e depois ele perguntou-me de onde é que eu era, eu disse com muito orgulho que era Putaoya Ren (Portuguesa) e ele respondeu "Ah yes, an island next to Spain!", nesse momento deu-me uma vontade de rir gigante, mas contive-me e expliquei-lhe que somos um pequeno país ao pé de Espanha, mas muito bonito e interessante. 

Entretanto a conversa foi avançando e ele perguntou-me qual era a minha opinião acerca da China e se estava a gostar. Eu respondi que no início foi muito complicado, mas que agora já estava mais do ambientada e que me sentia mais segura, embora não veja os polícias daqui a fazer grande coisa. Ele referiu que na China os polícias não são quem protege a população, mas que é o próprio povo que se protege a si mesmo. É importante cultivar boas relações e criar as próprias redes de amigos/conhecidos e em situações de aflição é a estes que se recorre.

Depois, perguntei-lhe o que ele tinha a dizer sobre o governo chinês e ele respondeu que não apoia, mas que não pode dizê-lo à frente de muitas pessoas porque poderia meter-se em caminhos apertados. Aqui a maioria das pessoas apoia o governo, ou vê-se obrigada a isso, pois é um país comunista. Só quem tem conhecimentos no governo é que pode fazer parte deste e tudo gira à volta disso. Este rapaz é dos poucos que não está de acordo com as políticas do governo chinês, pois tem uma mentalidade diferente, uma vez que estudou inglês e teve a oportunidade de investigar um pouco sobre a cultura ocidental. Ele disse-me que é proibido fazer manifestações públicas que vão contra os ideais chineses e que o governo escolhe a dedo as notícias que pública na imprensa. Ou seja, tentam transparecer que está tudo bem para a maioria da população e estes não têm outra saída senão acreditar, até porque grande parte da população mora em regiões mais pobres e não tem aprendizagem suficiente para perceber o que está certo ou errado, porque sempre viveram neste ambiente.

Entretanto surgiu o tema da família e eu perguntei se realmente existiam políticas de prevenção da natalidade. Ele respondeu logo que sim, mas que essa não era uma das prioridades para o país neste momento, apesar de ele achar que é assunto importante uma vez que a população está a crescer a um ritmo muito acelerado e qualquer dia não há recursos, trabalho ou mesmo espaço para tantas pessoas. Não é dada tanta importância ao assunto porque a mentalidade da população está muito enraizada na tradição e é muito complicado conseguir mudar. Para os chineses, quantos mais filhos tiverem, melhor, pois sentem-se mais seguros (esta ideia vem também no seguimento do que disse anteriormente sobre os polícias) e em caso de acontecer alguma coisa de errado, têm quem os proteja. Para além disso, os pais querem ter muitos filhos de forma a no futuro terem mais recursos financeiros e materiais para a família, bem como aposentar-se cedo.

Curioso também é o facto de as famílias quererem cada vez mais ter meninas em vez de meninos (o que eu pensava que era precisamente o contrário). Isto porque na atual sociedade chinesa cabe aos homens gerir a família e trazer todos os recursos para casa. Isso implica que as famílias dos noivos tenham que dar os seus bens, o seu tempo e recursos à noiva quando o homem não tem o seu próprio sustento, o que se torna um grande encargo para a família. Para além disso, as raparigas com mais de 25 anos que não são casadas, são mal vistas pela sociedade, pois nesta altura já deveriam ter arranjado um marido com estudos e posses financeiras para as sustentar. O que faz com que as pessoas na China se casem muito cedo e a vida familiar comece muito cedo.

A conversa ia de vento em popa, até que alguém o chamou e ele teve que sair. Penaaa! Gostei muito de conversar com ele. Fiquei esclarecida relativamente a diversos assuntos e espero voltar a encontra-lo, desta vez com uma lista de tópicos a falar! J

O meu nome é Luísa Gomes, tenho 20 anos e estou no último ano da licenciatura de Gestão no ISCTE Business School. Sou natural de Coimbra, Portugal.

Nos próximos 5 meses irei estar em Nanjing, China a terminar os meus estudos, no âmbito de um programa de intercâmbio realizado entre a minha faculdade e a correspondente em Nanjing. 

A criação deste site, associado a um blogue, surgiu para contornar um obstáculo encontrado, que é o da falta de liberdade de expressão e imprensa, que põe em causa o contacto com o mundo através de, por exemplo, redes sociais. Assim, surge com intuito de relatar todas as minhas aventuras, experiências e factos da sociedade chinesa, bem como divulgar o meu projecto "Uma experiência de vida - Relato de uma viagem pela China na 1ª pessoa". Este consistirá no desenvolvimento de competências académicas, empresariais e sociais e no estabelecimento de contacto entre Portugal e a China.

A actividade lectiva circunscrever-se-á a uma pequena parte do tempo disponível, sendo que haverá lugar à execução de outras actividades fundamentais no âmbito do projecto que vos apresento - voluntariado e promotoria empresarial. Ou seja, será uma viagem multidisciplinar caracterizada por uma itinerância constante, em diversas regiões, por deslocações a empresas e pela prestação de serviços. Para tal, contarei com o patrocínio da Associação Tempos Brilhantes, a qual vou representar durante toda a viagem, e com os contactos que estabelecerei ao longo do tempo.

Espero que me acompanhem nesta viagem e nas minhas aventuras. Vai ser algo único que quero partilhar com vocês!

 

Contactos

Estudar na China lleitegomes@gmail.com